26 abril 2016

Uma Lenda Chamada Caçador!

por Ed Oliver


Em todos os campos da arte, infelizmente há sempre aqueles que embora tenham feito trabalhos significativos, não puderam prosseguir para que sua arte pudesse ver as luzes dos holofotes e acabaram relegados ao quase esquecimento completo, graças à internet e à rapida disseminação da informação do mundo atual, obras são resgatadas e recolocadas de modos que aqueles que não puderam ter contato com elas, possam apreciá-las, assim é em todos os campos do conhecimento e não poderia ser diferente nos quadrinhos.


Hoje vamos falar sobre um trabalho singular e seu criador Marcelo Silveira que no início dos anos 90 apareceu nos fanzines com O Caçador (criado em 1988) , herói urbano que logo ganhou a simpatia dos leitores pelas suas tramas bem elaboradas, antes de mais nada é preciso citar que na época "O Caçador" ainda não era um nome tão comum para um personagem, embora a escolha de um nome simples e de fácil assimilação tenha sido uma boa sacada de Marcelo à época.
Marcelo Silveira

A lenda que viria a ser conhecida como "O Caçador" é uma saga passada de pai para filhos 

Com remorso pela morte do irmão Lovecraft resolve assumir o manto do justiceiro e tornou-se o segundo Caçador. Porém por mais força de vontade e coragem que tivesse, Lovecraft não tinha as habilidades nem a força física de seu irmão o que fez com suas poucas investidas contra o crime organizado resultassem num tremendo fracasso, assim abandonando seu alter ego, mas a chama da vingança em seu coração nunca arrefeceu.

Isso o levou a induzir seu sobrinho Willian Kaddeman Filho que na época completava 18 anos a vestir o uniforme e tornar então o terceiro Caçador. Graças a um rigoroso treinamento marcial e com armamentos, assim enfrentou e derrotou a Máfia local vingando a morte de seu pai. Renascia para o mundo a lenda, muitos acreditavam que o primeiro Caçador havia voltado a agir, para alguns ele era apenas uma lenda, entre o real e o imaginário ele se tornou um justiceiro, um vingador.

Segundo Marcelo Silveira, a primeira HQ do personagem surgiu em parceria com seu amigo Carlos Fernando, "Dias de Vingança" as aventuras desta história foram divididas em 5 capítulos e publicadas à época no "BIG ZINE" e mais tarde reunidas em um só volume pelo Q.I de Edgard Guimarães. A edição ainda contava com ilustrações do personagem feitas pelos artistas J.N. Bonzanini, Tarcilio Dias e Sergio Gama.

atravessando décadas segundo a cronologia de Silveira. O primeiro caçador foi William Kaddeman (pai) que criou e vestiu pela primeira vez o uniforme para se vingar de uma gangue de motoqueiros que havia espancado seu irmão, incentivado por seu irmão Lovecraft e suas habilidades atléticas, Kaddeman assumiu de vez o manto do justiceiro mas sua exagerada auto confiança o levou a morte. Aqui já se nota uma preocupação de Silveira em tornar seu personagem crível e mortal antevendo algo que aconteceria nas hqs muitos anos depois.
Dias de Vingança  mostra Willian Kaddeman já há algum tempo sob o manto do Caçador e questionando-se sob acabar com a carreira antes que o manto do justiceiro acabe com ele como fez a seu pai, mas ele é forçado a continuar sua sina quando Judas Priest, um mercenário aparece e transforma sua cidade no caos e o Caçador mais uma vez é obrigado a enfrentar sua gangue e num poderoso embate final derrota Judas e abandona seu uniforme.

Após algum tempo, Willian Kaddeman tornou-se operativo da D.E.S. (Divisão Especial de Segurança), um órgão secreto ligado à Polícia Federal, cujo objetivo é garantir a segurança de VIP'S, políticos e testemunhas em situação de risco.

O sucesso de Dias de Vingança foi tanto e deu um retorno tão inesperado à Marcelo Silveira que este decidiu por dar ao Caçador um fanzine próprio e o próximo passo foi a excelente mini-série em 3 capítulos intitulada "Terrorismo no Oriente", roteirizada por Marcelo Silveira e Jerônimo Souza, contava com desenhos de Jerry Adriani (editor na época do zine Profecia) no primeiro capítulo, Alex Sturmer no segundo e Jerry Adriani e o craque Daniel HDR (antes de se tornar artistas nos EUA) no terceiro capítulo, as edições ainda continham ilustrações de Sergio Gama e Alex Doeppre. A Mini-série também foi reunida mais tarde por Edgard Guimarães, e para quem compra-se a série completa ainda era dada a opção de adquiri-la com uma linda capa dura colorida em silk-screen, coisa rara na época para um publicação independente!

Em Terrorismo no Oriente, após Willian Kaddeman ter se decidido em abandonar a carreira de justiceiro é obrigado a embarcar para o Líbano em uma missão terrorista para o M-19, por causa de uma pendência antiga de seu pai com o governo britânico, em meio a um turbilhão entre traficantes de drogas e as autoridades libanesas por fim o Caçador consegue realizar sua missão e limpar o nome de seu pai.


A série foi muito elogiada na época e foi indicada ao Troféu Angelo Agostini de melhor lançamento de 1993!
Entusiasmado com a receptividade de seu personagem Marcelo Silveira então adentrou 1994 com a idéia de continua a saga de seu justiceiro e que melhor razão do que trazer de volta seu pior inimigo, Judas Priest?

Essa é a premissa de "Almas Corrompidas" uma minissérie em dois capítulos publicadas no "Zine HQ Especial e como de praxe reunidas mais tarde pelo Q.I de Edgard Guimarães. Com roteiros de Silveira e com arte do genial Marcio Sennes. Aqui descobrimos que Judas Priest não havia morrido, e sim foi mantido em animação suspensa por um de seus contratantes para ser usado como um assassino-zumbi, mas assim que o mesmo é despertado ele mata o contratante e parte para o seu antigo Covil com um objetivo: - Reunir seus homens e encontrar o Caçador. Nesse meio tempo um Willian Kaddeman mudado volta ao Brasil de sua ida ao Líbano, quando ao chegar ao bairro de seu tio para uma visita é alvejado por um dardo tranquilizante e cai desacordado.

Ao acordar ele se encontra caído em um fosso e vestido com o uniforme do Caçador! Era tudo um plano de Judas para um último confronto "mano a mano" entre os dois, na frente de todos os homens de Judas, num combate desigual no qual Judas utiliza de baixeza e armas brancas, por fim o Caçador é atravessado por uma lâmina e cai desacordado na água. Judas grita vitorioso aos céus. A história fecha com dois varredores descobrindo parte do uniforme rasgado do Caçador. Seria o fim definitivo do justiceiro?

Anos depois outro intrépido dos quadrinhos brasileiros Carlos Henry roteirista, desenhista e  fã inconformado com o fim do herói tão significativo, resolve trazê-lo de volta roteirizando a HQ "Atos de Vingança"
Para a empreitada Carlos convidou alguns artistas que participaram das edições anteriores do Caçador como Marcio Sennes, Tarcílio Dias e Sergio Gama, também ajudaram no projeto Gabriel Rocha, Anilton Freires e Sebastião Nicolau.
Na trama, descobre-se que o pretenso Willian Kaddeman morto era na verdade um sósia do verdadeiro Willian. Agora livre Judas tomou conta do submundo e distribui drogas para todo o país, seguindo as pistas o caçador encontra então Judas e mais uma vez os dois travam luta e derrotado Judas é entregue ás autoridades enfim com seu cartel sendo esfacelado. A Hq fecha com uma interessante cena onde Kaddeman ajeita sua máscara de Caçador, e dizendo : - "Agora eu sou o caçador, não porque preciso ser, mas porque quero ser!"

CURIOSIDADES:

O trágico fim do Caçador?

Em 1994, Marcelo interrompeu a continuidade do Caçador, devido aos compromissos com o Curso de Histórias Em Quadrinhos no Museu de Arte do Rio Grande do Sul "Ado Malagoli" (ministrado pelo grupo Visuart, do qual ele fazia parte, junto com Jerônimo de Souza, Daniel HDR, Jefferson Barbosa e Marcos Pinto Gomes) e a faculdade de Artes Plásticas na UFRGS.

Daniel Santos, grande entusiasta do personagem, produziu, então, uma versão para os eventos mostrados em "Almas Corrompidas", a HQ "BAM!", em que o Caçador ressurgia como traficante nos morros cariocas, atuando ao lado do Saltador (personagem criado por Daniel). Algumas páginas foram desenhadas por Daniel HDR e Volnei Matte. Esta HQ foi republicada no fanzine Tchê número 34 (lançado no inverno de 2005).

Após um hiato de mais de uma década, o Caçador reapareceu em "O Filho do Caçador", escrita por Jerônimo de Souza e desenhada por Geraldo Abelardo. Publicada na revista Hangar 02, editada por Jerônimo em 2007, seu argumento já havia sido escrito no início dos anos 1990.

Capa do Big Zine 5, a primeira aparição do Caçador!

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