20 dezembro 2014

Entrevista com a super Ilustradora e Artista Visual Anna Anjos!


Blog do Ilustrador tem o imenso prazer de fazer essa entrevista com a Super ilustradora e artista visual,  Anna Anjos, ela tem de destacado no universo da Ilustração, imprimindo um trabalho original e alegre, que chamou atenção de algumas das maiores marcas do mercado publicitário, unindo sua criatividade à criação de um universo artístico próprio que ela batizou de AfroTropicalismo, valendo-se de suas influências, conheça um pouco mais do universo desta grande artista!


1- Anna, é um imenso prazer ter você aqui no Blog do Ilustrador! O caminho entre se descobrir desenhista e fazer disso sua profissão, como foi esse processo?
Anna - Comecei a desenhar desde muito cedo, ainda com meu pai. Essa vivência fez crescer minha vontade por ilustrar, porque além do meu interesse natural guardei comigo essa memória afetiva da experiência familiar.

Sempre desenhei, mesmo trabalhando em agências e produtoras, mas chegou um ponto em que não exercer a autoralidade do meu traço começava a me incomodar; simplesmente não conseguia mais dividir meu tempo e expressar meu universo visual apenas quando “sobrava um tempo no trabalho”. Não, eu queria tornar esse o meu trabalho! Queria desenhar minha própria produção e dividir essa parte do meu universo com as pessoas. Isso aconteceu em 2009, quando saí da produtora em que trabalhava como colorista e passei a me dedicar apenas a minha ilustração autoral.

2- Você é uma artista diferenciada pois conseguiu imprimir, num mercado que exige mais maleabilidade, um estilo pessoal e único. Foi difícil fixar um estilo tão pessoal?
Anna - O “estilo” não foi exatamente difícil definir (estamos sempre aprimorando o traço, a técnica; a evolução precisa ser diária), ela foi acontecendo aos poucos. Eu sabia que essa transição para uma vida de ilustradora freelancer não seria fácil. Seria necessário produzir muito e tornar essa produção acessível ao mercado (não apenas comercialmente, como também desenvolver o estímulo visual da repetição gráfica que exige um trabalho autoral).


A proatividade é um requisito básico para trabalhar de forma autônoma. Mas todo esse processo complexo e árduo era justamente o que me fascinava, porque eu realmente acreditava que poderia conseguir; a paixão sempre foi meu combustível. Também acho fundamental sermos curiosos, independentemente da profissão, isso é fundamental para se ter uma mente criativa. Sabe aquele “comichão”, aquela vontade de querer aprender sempre? A referência (adquirida de modo acadêmico ou empírico, não importa) é o útero da criatividade.


3- Aliás, acredito que sua experiência em agências de publicidade foi importante até no processo de saber usar seu trabalho para adaptá-lo nas diversas mídias e mercados, concorda?
Anna - Sim. Trabalhar em agências de publicidade, vivenciar essa demanda, me proporcionou acuro comercial e agilidade. A prática você não aprende na faculdade e sim no mercado de trabalho, não tem jeito.

Você vai errar muitas vezes; muitas vezes vão te dizer “não”. Por isso acreditar, ter tesão pelo seu trabalho é tão importante, porque no momento em que você recebe a negativa ou o erro, você consegue transformá-lo em lição. O erro precisa ser visto como desafio, nunca como obstáculo, porque é nesse momento que você cresce, amadurece profissionalmente.

E atuar em agência me fez compreender que o que eu realmente queria era ser autônoma (risos). E isso não é uma questão de ser melhor ou pior, mas sim de personalidade. Há muitas pessoas que são geniais trabalhando em equipe; outras, como eu, que preferem um pouquinho de isolamento pra conseguir criar. É uma questão de descobrir qual seu perfil profissional e investir nele.

4- Pro pessoal que está começando, tão importante quanto desenvolver o traço é também trabalhar o lado "administrativo" de sua carreira não?
Anna - Sim, sem dúvida. É muito importante saber gerenciar ainda que basicamente as questões administrativas da nossa profissão. Compreender que um trabalho pode vender preço ou valor. O diferencial em um trabalho é descobrir seu valor; ele vale pelo quão “raro” ele é no mercado, ou seja, o quão inédito de alguma forma ele se apresenta e marca a vida das pessoas.

A vida de autônoma me fez perceber que é fundamental estabelecer uma pequena rotina, para que você possa conciliar sua vida profissional e pessoal. Precisa existir tempo para as duas! Se você viver só na balada não terá tempo pra produzir (o que é essencial), porém ficar trabalhando enlouquecidamente o tempo todo não é também algo saudável. Você poderá fechar muitos trabalhos, mas você não terá vivenciado, nem experimentado seu próprio universo, não terá absorvido referências, estímulos, experiências que só têm a enriquecê-lo enquanto profissional criativo. Quero reforçar o que disse lá em cima: a referência é o útero da criatividade.


5- Aliás, como chegou até ele e o que influenciou você nesta evolução?
Anna - Como em tudo na vida, quando você quer muito algo a dedicação é o requisito fundamental. É no dia-a-dia, vivenciado “erros” e “acertos”, vivenciado possibilidades, que a gente vai amadurecendo um estilo, um jeito mais particular de desenvolver a ilustração autoral.

Enquanto cursava design na faculdade ainda não havia chegado a algumas características que hoje são assinatura em minha produção autoral; isso foi acontecendo quando me graduei, durante o período em que atuava para agências e editoras.

6- O que me chamou atenção em seu trabalho também foi a questão que você não apenas buscou uma identidade pessoal como elaborou todo um conceito para embasar seu trabalho que seria o Afrotropicalismo não é? Do que se trata e ele é um manifesto para que outros artistas que se identifiquem possam usar este universo para criar seus trabalhos e identidades ou você vê como algo extremamente pessoal?

Anna - O Afrotropicalismo surgiu após minha viagem à Argélia, em 2009. A capital Argel tem um mix cultural tão plural (turco-otomanos, espanhóis e franceses) que me fascinou: as cores e os padrões gráficos, a arquitetura, a publicidade local. Então quando voltei ao Brasil veio a ideia de unir o movimento Tropicalista brasileiro com os orixás africanos, o Afrotropicalismo. Criei histórias para cada um dos personagens (entidades Afrotropicais), estudos do universo Afrotropicalista e o manifesto Afrotropical. Na verdade foi uma fase que nasceu de uma necessidade em querer externar essa absorção tão intensa que aconteceu durante a viagem.
Viajar tem dessas coisas. Se você vai para um lugar inédito aquela experiência pode ser mágicoa. Se você permitir absorver a cultura e os costumes locais acaba expandindo e enriquecendo demais seu horizonte pessoal e, consequentemente, o profissional.

7- Anna, a música é uma grande influência em seu trabalho, fale um pouco sobre isso.
Anna - Música é tudo pra mim. A ilustração e a música são duas expressões que caminham juntas e que ganham muita força quando interconectadas. Cresci ouvindo música, principalmente a brasileira, por influência materna. Isso tem um peso também, é uma memória afetiva que carrego comigo.

8- Você cita Tom Zé como uma grande influência, tive o prazer de conhecê-lo  e consigo ver um certo elo entre sua arte e o conceito das músicas dele no que se refere à brasilidade, à essa coisa do popular, do respeito à nossa cultura!
Anna - Ouço Tom Zé desde pequena. Eu o admiro muito, não apenas por sua figura irreverente, mas também pela maneira como ele permite romper padrões, desconstruir e resignificar elementos.

9- Bem, como estamos no Blog do Ilustrador, vamos para a parte mais técnica de seu trabalho, Anna. Você tem preferido a pintura acrílica atualmente em seu trabalho, essa é uma tendência ou você ainda pretende continuar usando a tecnologia em seus trabalhos?
Anna - Eu iniciei este ano uma produção manual em que a tinta acrílica é minha principal ferramenta. Porém continuo utilizando os recursos digitais e os softwares que sempre utilizei, mas sempre no intuito de enriquecer e otimizar a criação. Muitas vezes deixamos que eles sejam limitadores da potencialidade de um trabalho.

10- Os artistas dizem que apesar de todas as possibilidades o computador ainda não conseguiu trazer a intuitividade que a arte à mão trás, como vê isso?
Anna - O digital e o orgânico são vivências muito diferentes. O pigmento agindo sobre a trama do papel ou tela, a textura do pigmento sobre o suporte proporcionam uma outra percepção sobre seu trabalho; o “fazer à mão” oferece uma nova compreensão sobre as possibilidades de criação. É mais prazeroso porque transforma sua relação com o tempo da produção (muito diferente do universo digital) e, principalmente, te coloca em uma posição de vulnerabilidade. Você passa a aceitar que o erro faz parte do processo (algumas vezes um traço ou pincelada tecnicamente “errados” são muito mais interessantes visualmente).

11 - Anna, em suas pinturas que tipo de material você usa basicamente? Tintas importadas ou nacionais?
Anna - Uso tinta acrílica; trabalho com as duas: nacional (Corfix) e importadas (Amsterdam e Basics da Liquitex).

12 - Fale-nos um pouco de sua rotina de trabalho diária.
Anna - Você tocou em um ponto importante pra quem é autônomo: rotina. Estabelecer limites de horários por vezes pode ser difícil quando você é seu próprio chefe, mas essencial, pois você vai precisar conciliar vida pessoal e profissional. Essa importância de estabelecer alguns horários básicos é potencializada quando se trabalha em casa, em que os dois papéis caminham juntos e diariamente. Costumo acordar cedo; checo meus emails e inicio o trabalho. Por vezes quando estou cansada no final da tarde procuro sair para arejar a cabeça e mudar o padrão.  Também tenho praticado ioga e isso ajuda demais na concentração, foco e potencializa a disciplina. Recomendo a todo mundo.

13 - Que artistas mais influenciam seu trabalho?
Anna - Na música tenho como grandes referências: Jorge Ben Jor, Siba Veloso e a Fuloresta, Lenine, Novos Baianos, Alceu Valença, Otto, Nação Zumbi; na literatura, Rubem Alves e o grande poeta “brincante fazedor de mundos”, Manoel de Barros. No cinema, Lynch e Cronenberg.

14- Fala um pouco pra gente da tua exposição “Alquimia do Olhar” e seus projetos atuais.
Anna - Alquimia do Olhar foi minha primeira expo solo. Ela foi fruto do amadurecimento de um problema pessoal pelo qual passei no início deste ano. Então resolvi desenvolver uma série de obras (acrílica sobre papel e tela) que de alguma forma celebrasse a possibilidade humana de transformar algum obstáculo em um caminho para o crescimento e amadurecimento pessoal.

Estou atualmente ampliando os trabalhos desse série; em 2015 haverá outras exposições em São Paulo e alguns outros projetos já em andamento, mas ainda não posso contar mais detalhes.

Agradecemos imensamente a atenção de Anna Anjos com nosso site!
Para conhecer mais sobre o trabalho de Anna visite seus espaços na internet:
Anna Anjos site oficial: AQUI!
AfroTropicalismo - AQUI!




Confira também nossa super entrevista com o Ilustrador Spacca! AQUI!

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