16 agosto 2015

Editora Gato Preto uma nova força criativa!

O Mercado Editorial tem mudado sobretudo o publico, em busca de produtos de qualidade e fugindo do esquema um tanto já fatigado de grandes tiragens impessoais, algumas editoras tem apostado em outras linhas editoriais e na criatividade e têm nos presenteado com grandes trabalhos! É exatamente este o caso da Gato Preto


A Editora que começou pequena, tentando mostrar um pouco do panorama das artes gráficas e os trabalhos dos ilustradores, captaneada por Ze Rodolfo e Ana Muriel, vindos do circuito de zines dos 80, faz questão de dar o mesmo espaço para autores conhecidos ou iniciantes, com certeza a Gato Preto é uma brisa de ar puro e criatividade em nosso meio!

1-Fale um pouco sobre a trajetória de voces até surgir a idéia de montar a Editora Gato Preto.
Zé Rodolfo - A editora nasceu quase por acidente, não foi planejada. Em 1997 a Ana Curcelli, minha companheira na época, escreveu um livro de receitas veganas e resolvemos publicá-lo por conta própria, sem editora, como se fosse um fanzine. Publicamos o livro (Cozinhando sem Crueldade, no nosso catálogo até hoje) em parceria com um amigo e vendíamos ele pessoalmente em eventos e diretamente em algumas lojas.        Em 2007, com a facilidade de vender na internet, resolvemos abrir a editora e publicamos mais 2 livros de culinária. A gente vendia esses livros pelo site, mas não tínhamos um projeto editorial, não pretendíamos levar a coisa muito a sério. Quando nos separamos em 2010 eu fiquei com a editora e mantive o site em banho-maria, sem atualizar, só vendendo alguns livros de vez em quando. Era uma renda extra todo mês, só isso.
Em 2012 conheci a Ana Muriel no curso do Guazzelli, quando eu estava resgatando meu interesse pelo desenho. Começamos a fazer planos juntos e ela embarcou de cabeça na ideia de dar nova vida à editora, e trouxe a ideia de criar o selo Garabato.  Começamos publicando o Cholitas de Mi Corazón, do Guazzelli e a partir daí não paramos mais.

2-A Editora tem uma proposta diferenciada fale um pouco a respeito.
Zé Rodolfo - Não sei dizer se é diferenciada, é a nossa proposta e ponto. A gente não fez curso no Sebrae, não sabe nada sobre mercado coisa e tal. Minha escola foi a minha vivência com a produção independente, do movimento anarquista, dos fanzines e das bandas. A Ana Muriel trouxe o conhecimento dela de ilustração e o grande amor que tem pela arte do rabisco. Adotamos o espírito “faça-você-mesmo” em todos os aspectos de nossa vida. Quando resolvemos publicar outros autores, não seguimos nenhum modelo do mercado, elaboramos um nosso em que a gente engaja o autor na divulgação dos livros e divide os lucros.

3-Estamos entrando numa fase sui-generis nos quadrinhos em que o publico parece estar mais aberto e receptivo aos quadrinhos fora do esquema maisntrain, como os que voces editam, como analisam isto?
Zé Rodolfo - Tudo isso é fruto da internet. Antes, para você conhecer um autor ele tinha que estar na banca ou ser publicado no jornal. Hoje temos autores que ficam muito conhecidos sem nunca ter publicado livro ou em jornal e revista. Mas a internet é um mar muito grande de informações, onde tem muita porcaria ao lado de trabalhos incríveis. É aí que entra o trabalho de editor, que é garimpar coisas que sejam interessantes.

Foto: Rodrigo Melleiro

4-E voces tem lançado que títulos em sua linha editorial?
Zé Rodolfo - Além dos livros, temos o selo de quadrinhos e ilustração e os livros de culinária que nasceram com a editora. Nossa linha editorial é bem simples: Publicamos autores de quem somos fãs, trabalhos que achamos que valem a pena serem impressos. A internet é muito legal, mas muito efêmera, os quadrinhos que surgem online muitas vezes se perdem rapidamente. E tem coisa que merece ser imortalizada, e ainda acreditamos que o livro é a melhor maneira de fazer isso.

5-Quais os autores que destacariam em seu Cast?
Zé Rodolfo - Pô, é sacanagem pedir isso, é como pedir para um pai escolher entre os filhos. Bom, mas se é para destacar alguém, tem que ser o Guazzelli. Ele é um dos maiores desenhistas que conheci, tem um trabalho autoral muito forte, sabe como ninguém o que faz. Conheço poucas pessoas que tem um trabalho tão coeso, consegue ser político e poético ao mesmo tempo, com uma sutileza que só um grande artista tem. Ele é muito respeitado entre os desenhistas, mas não é tão conhecido do grande público, o que é uma pena.

Ana Muriel, Zé Rodolfo e Rafa Campos

6-Qual o processo de seleção do material publicado?
Zé Rodolfo - A gente só publica trabalhos em que acreditam os muito. A coisa funciona de uma maneira bem natural, conhecemos o trabalho, procuramos os autores e vemos se rola publicar. Geralmente procuramos trabalhos e autores que tenham a ver com nossa visão de mundo. É uma relação que não é só comercial, tem que ter uma sintonia.

7-Quais os próximos lançamentos da Editora e planos para um futuro próximo.

Zé Rodolfo - A gente está com alguns projetos muito legais nas mãos. Os próximos lançamentos provavelmente serão o livro de desenhos eróticos do Kiko Dinucci, que é muito conhecido no mundo da música, mas que também é um desenhista de mão cheia. Também temos uma HQ de terror muito forte do Di hayashi e Mauricio Hirata, uma história de possessão demoníaca que tem muito a ver com o momento em que passa o país, com a intolerância religiosa e a ascensão das igrejas evangélicas. Conheci esse trabalho meio ao acaso ao fazer o livro do rafa Campos e fiquei embasbacado com a história e o tratamento gráfico. Ele tem uma violência brutal e uma história tão poderosa que não tinha como não publicar. Acho que fui arrebatado pelo poder de Satã.

8-Fale um pouco sobre a participação de vocês na Parada Gráfica 2015.
Zé Rodolfo - Nos últimos anos têm crescido muito essa cena de feiras de publicações independentes, como a Feira Plana e a Tijuana, em SP, e a Parada Gráfica, em Porto Alegre. Parece que o pessoal cansou da vida on-line e estão pipocando publicações muito legais. Ficamos muito contentes de termos sido selecionados para a Parada Gráfica, ainda mais pela curadoria do Fábio Zimbres , de quem sou um grande admirador desde os tempos da revista Animal. A feira foi bem legal, no Museu do Trabalho, que é um espaço incrível e teve um aproada de atividades paralelas, palestras, oficinas. É muito legal fazer parte disso.

9-Além do trabalho com a editora vocês também tem seus trabalhos individuais como ilustradores! Em que pé andam? Algum lançamento previsto?
Zé Rodolfo - Eu não sou ilustrador profissional, desenho só por diversão. Meu trabalho fora da Gato Preto é como editor de arte em publicações do grande mercado. Bom, como é coisa de grande mercado, não precisa ficar falando, eles já têm todos os canais de divulgação, né? A Ana Muriel tem um trabalho incrível como ilustradora e tem feito muitos trabalhos relacionados à maternidade e aos direitos dos pequenos e das mães, como ilustrações para campanhas de aleitamento materno, contra a redução da maioridade penal, entre outras. Se eu fosse você dava uma olhada no site dela (www.anamuriel.com) e no FaceBook também (Aqui!), onde ela sempre posta as novidades.

10-Como ilustradores quais autores mais admiram e influenciaram seus trabalhos?
Zé Rodolfo - Como eu disse não sou muito seguidor de ilustrador, não. Meu lance sempre foi desenhistas de quadrinhos mesmo, tenho uma preferência pela narração. Sou apaixonado pelo Daniel Clowes, que tem os melhores roteiros do mundo e pelo Jules Feiffer, com o traço solto e discurso político super afiado. Mas se tem alguém que me influenciou mesmo foi o Guazzelli, que me colocou para desenhar depois de muitos anos travado.

11-Qual a visão de voces sobre o mercado editorial atual?
Zé Rodolfo - Não tenho visão nenhuma sobre mercado, isso não me interessa mesmo. Fazemos parte de uma cena de editoras independentes que publicam o que estão a fim e pronto. O dinheiro nunca foi o foco.

12-Muito obrigado por responderem nossa entrevista! Deixem uma mensagem para os leitores!
Zé Rodolfo - De nada. Putz, mensagem? Tipo “siga seus sonhos”, “use mais drogas”? Sei lá, acho que seria: desligue a TV e, em caso de dúvida, vire à esquerda.

Conheça a Editora Gato Preto

por Ed Oliver

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